As ‘bets’ são casas de apostas online legalizadas no Brasil desde 2018. Elas ganharam força nos últimos anos e hoje estampam inclusive espaços de patrocínio nas principais camisas do futebol brasileiro. Em abril, a Polícia Federal prendeu dois parentes de Marcola, um dos chefes do PCC, em uma operação que apura o envolvimento da facção com casas de apostas no Ceará. No indiciamento, o delegado Igor César Conti Almeida escreveu que há “robustos indícios, também, da prática de lavagem de dinheiro obtido de forma ilícita” através das plataformas de apostas. A PF ainda não estimou o montante lavado, mas mapeou um total de R$ 301 milhões movimentados nas contas de mais de 20 investigados.
Coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da UFF, o sociólogo Daniel Hirata avalia que as apostas online são uma “nova fronteira” para grupos que sempre buscaram diversificar suas atividades. Ele cita as rifas promovidas pelo PCC nos anos 1990, na periferia paulistana, como exemplo de que jogos de azar podem se prestar mais do que à lavagem de recursos, e servem também para capitalizar as organizações.
— Os mercados preferenciais desses grupos são os de regulamentação e fiscalização fracas. As bets representam uma oportunidade pelo ingresso de valores relativamente pequenos por aposta, mas com grande malha de atuação. E além dessa passagem de dinheiro da economia ilegal para a legal, as organizações criminais buscam entrar em atividades que podem ser lucrativas por si mesmas — avalia.
Rio de Janeiro
No Rio, a máfia que domina o jogo do bicho e as máquinas caça-níquel também expandiu seus tentáculos para as bets. Um dos bicheiros que já diversificou seus negócios é Rogério Andrade. Um email de um de seus funcionários, encontrado pelo MP, revela que o bando estava engajado na criação de um site de apostas fora do país já em 2020.
“Quando ele tiver isso, nunca mais vamos correr o risco da Justiça achar que estamos fazendo algo ilegal”, dizia a mensagem.