publica em 11/09/25
No dia 13 de setembro, o mundo volta seus olhos para uma inimiga invisível, rápida e muitas vezes fatal: a sepse. Apesar de ser uma das principais causas de morte em hospitais, a doença ainda é desconhecida para grande parte da população. E é justamente essa combinação, de gravidade e desconhecimento, que a torna tão perigosa.
A sepse não é apenas uma infecção. É quando o corpo, ao tentar reagir a um agente invasor, perde o controle e começa a atacar a si mesmo. Pulmões, rins, coração e cérebro podem entrar em colapso em questão de horas. Cada minuto sem tratamento reduz as chances de sobrevivência. E, no entanto, quantos de nós saberíamos reconhecer seus sinais?
Os sintomas iniciais – febre, calafrios, respiração acelerada, pressão baixa, confusão mental, pele fria ou manchada – podem ser confundidos com uma gripe forte ou uma indisposição passageira. Essa semelhança engana pacientes, familiares e até profissionais de saúde. Não existe um exame único que confirme a sepse rapidamente; o diagnóstico é clínico e exige atenção redobrada. Enquanto hesitamos, a doença avança. É por isso que campanhas como o Dia Mundial da Sepse repetem incansavelmente: “Sepse é uma emergência médica. Reconhecer os sinais e procurar ajuda imediata pode salvar vidas.”
Idosos, crianças pequenas, pessoas com doenças crônicas como diabetes, câncer ou insuficiência renal, pacientes imunossuprimidos e internados em UTIs estão entre os mais vulneráveis. Mas a verdade é que qualquer infecção tratada de forma inadequada – uma pneumonia, uma infecção urinária, uma ferida na pele – pode evoluir para sepse. A prevenção começa muito antes da emergência. Vacinação em dia, higiene das mãos, cuidado com feridas, tratamento rápido de infecções e uso correto de antibióticos são medidas simples que salvam vidas. Dentro dos hospitais, protocolos de prevenção de infecção, higienização rigorosa e monitoramento de dispositivos invasivos são fundamentais.
O tratamento da sepse é uma corrida contra o tempo. A primeira medida é iniciar antibióticos de amplo espectro o mais rápido possível, de preferência na primeira hora após a suspeita. Ao mesmo tempo, é necessário manter a pressão arterial e a circulação com reposição de líquidos e, se preciso, medicamentos vasopressores (para aumentar a pressão arterial). Muitas vezes, é preciso também eliminar a fonte da infecção – drenar um abscesso, retirar um cateter contaminado ou operar um foco infeccioso.
Nos casos mais graves, a sepse leva à falência de órgãos, exigindo suporte intensivo. Neste contexto, a tecnologia é uma importante aliada para buscar o restabelecimento dos pacientes. Quando os rins param de funcionar, utiliza-se diálise contínua, 24 horas por dia, de forma delicada para não sobrecarregar o coração e manter o equilíbrio do organismo até que haja recuperação. Se os pulmões falham, ventiladores mecânicos assumem a função respiratória. Em situações de inflamação sistêmica intensa, há tecnologias capazes de filtrar o sangue, removendo substâncias inflamatórias e ajudando a estabilizar o paciente enquanto o antibiótico faz efeito. Esses recursos, integrados e monitorados em tempo real, permitem que a equipe médica ofereça suporte simultâneo a múltiplos órgãos, ganhando tempo precioso para que o corpo se recupere.
A sepse mata mais do que alguns tipos de câncer e acidentes de trânsito, mas segue invisível no debate público. O Dia Mundial da Sepse existe para mudar isso: informar quem nunca ouviu falar, ensinar a reconhecer sinais de alerta, estimular a busca rápida por atendimento e mobilizar governos e instituições para investir em prevenção e tratamento. Não podemos mais aceitar que vidas sejam perdidas por falta de informação. A pergunta que deve ecoar em cada casa, consultório e pronto-socorro é: “É apenas uma infecção, ou já pode ser sepse?” No próximo 13 de setembro – e em todos os outros dias do ano –, que essa resposta venha acompanhada de ação rápida. Porque, diante da sepse, cada hora conta.
*Por Dr. Paulo Lins, médico PhD em Nefrologia e gerente médico da Vantive Brasil