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Com alta tímida, economia deve ter retomada apenas gradual até o fim do governo Bolsonaro

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 tímido crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, de 1,1%, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não deve dar espaço para um avanço mais robusto da atividade econômica nos próximos anos. Por ora, o que os analistas esperam é apenas uma retomada gradual da economia até o fim do governo Jair Bolsonaro.

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PIB: economia brasileira cresce 1,1% em 2019, de acordo com o IBGE

Os economistas até avaliam que o crescimento melhorou: o país saiu de um patamar de expansão de 1% observado nos últimos três anos para uma faixa próxima de 2%. A questão é que, apesar do avanço, o desempenho do país não deve ir muito além. Até 2022, último ano da administração Bolsonaro, o PIB não vai ter força para superar os 3%, segundo analistas ouvidos pelo G1.

Se as previsões se confirmarem, o governo terá sofrido um revés. Num debate durante a campanha presidencial de 2018, Carlos da Costa, então assessor de Bolsonaro e atual secretário de Produtividade do governo federal, afirmou que a economia brasileira poderia crescer 3,5% já em 2019.

Há tanto fatores internos como externos que estão dificultando a expectativa de uma retomada mais robusta:

  • O PIB potencial do Brasil – a capacidade de crescer sem inflação – está baixo;
  • Há incerteza sobre a capacidade política do governo de avançar com as reformas tributária e administrativa;
  • A economia brasileira está numa fase de transição e passou a depender mais dos recursos do setor privado;
  • Há um grau de incerteza sobre o desempenho da atividade global, quadro reforçado pelo surto do coronavírus.

Economia sem fôlego — Foto: Economia G1

Os analistas são enfáticos ao afirmar que uma aceleração do crescimento passa pela continuidade da agenda de reformas, melhorando, dessa forma, o ambiente de negócios. No ano passado, o governo conseguiu aprovar a reforma da Previdência. Mas lista ainda é longa, com as reformas tributária e administrativa, por exemplo, além de medidas mais pontuais, como a autonomia do Banco Central e a aprovação do MP do saneamento.

Com a reforma tributária, o governo promete simplificar o pagamento de impostos para melhorar o ambiente de negócios. A reforma administrativa deve alterar a carreira dos novos funcionários públicos com o objetivo de reduzir o gasto com pessoal e, assim, contribuir para o acerto das contas públicas.

“É preciso seguir com essa agenda de reformas para que o país consiga ter um PIB potencial num nível mais alto”, afirma Lucas Nobrega, economista do banco Santander.

Em 2019, levantamento do Banco Mundial – chamado de Doing Business – mostrou que o país caiu no ranking que mede a facilidade para fazer negócios. O país passou da 109ª posição em 2018 para a 124º. O relatório mede uma série de itens, como abertura de empresas, registros de propriedades e insolvência na Justiça.

Embora a necessidade das reformas seja um consenso, há uma série de incertezas sobre a capacidade política do governo de levar essas propostas adiante numa negociação com o Congresso Nacional. Num cenário otimista, de aprovação de uma ampla reforma tributária, a consultoria Tendência estima que o PIB deste ano poderia crescer 2,7% e 3,5% nos anos seguintes.

“A reforma tributária faria boa diferença no ritmo de crescimento”, afirma a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro. “Mas o nosso cenário básico não engloba uma reforma tributária. O que vemos é uma aceleração das concessões de infraestrutura e uma aposta no consumo, que ganha tração.”

Sem a tributária, os números da consultoria são bem mais modestos para a economia brasileira. Neste ano, o PIB deve crescer 2,1% e pode subir para a faixa de 2,5% nos próximos dois anos.

A redução da participação do Estado na atividade econômica desde o governo Michel Temer também acaba tendo efeito sobre o PIB, uma vez que o investimento passou a depender mais fortemente do setor privado, já que há menos crédito e recursos públicos na economia.

“A economia brasileira não conta mais com o papel do BNDES, dos bancos públicos e do crédito subsidiado”, afirma a economista-chefe da Claritas, Marcela Rocha.

Em Brasília, a própria equipe econômica passou a destacar que atualmente o PIB privado tem sido o motor da economia, enquanto o setor público tem jogado contra a economia brasileira. Essa transição é considerada essencial para o crescimento sustentado do país, segundo analistas, mas dificulta uma retomada mais forte no curto prazo.

A queda da taxa básica de juros (Selic) – atualmente no piso histórico de 4,25% ao ano – tem contribuído para esse processo de transição, de fortalecimento do investimento privado. Atualmente, o retorno dos investimentos realizados pelas empresas brasileiras já é maior do que o custo que elas têm para captar recursos. Isso não ocorria há quase 10 anos.

Cenário internacional

No cenário internacional, as incertezas aumentaram com o impacto do surto de coronavírus nas principais economias mundiais. Na China, vários setores foram atingidos. A economia chinesa é a principal parceira comercial do Brasil. Uma desaceleração, portanto, tem capacidade de afetar o desempenho da economia brasileira.

A preocupação escalou de patamar depois que a atividade de mais países passou a ser afetada diretamente. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já reduziu a previsão de crescimento da economia mundial para 2020. A entidade passou a projetar um avanço de 2,4%, ante expectativa anterior de 2,9%. Se a previsão for confirmada, será a menor expansão desde 2009, quando o mundo enfrentava a crise financeira.

Na semana passada, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, admitiu que o coronavírus deverá provocar uma revisão na estimativa de Produto Interno Brasileiro (PIB) deste ano.

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Secretário de Política Econômica comenta efeitos do coronavírus no cenário econômico

Não bastasse o coronavírus, o Brasil ainda conta com a Argentina para lhe roubar um naco do PIB. A projeção do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) é de que a recessão do país vizinho já tirou 0,5 ponto percentual do PIB do Brasil no ano passado.

“A má notícia é que começamos mal 2020, a gente está num momento de crescimento mais fraco”, afirma Silvia Matos, pesquisadora do Ibre/FGV. “Tivemos a questão do Irã, depois o coronavírus, o que dá um choque de humor na economia .”

Anos de decepção

O problema é que não é só coronavírus e Argentina que ofuscam o desempenho do Brasil historicamente. A economia brasileira tem enfrentado anos de decepção, com previsões de crescimento sucessivamente rebaixadas por economistas conforme os meses vão passando.

Em janeiro do ano passado, a mediana das previsões para o PIB de 2019 era de 2,6%, de acordo com o relatório Focus, do Banco Central. Para 2020, as projeções mais otimistas foram colhidas em fevereiro de 2019, quando a previsão de crescimento marcava 2,8%.

“Para o país acelerar para um crescimento de 3%, tem de fazer as reformas domésticas”, afirma Silvia, do Ibre. “Se o país conseguir reduzir os entraves para um crescimento de 2,5% e 3%, mas hoje há nesse cenário mais incerteza do que havia no passado.”

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