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Professor diz que pandemia deixará lacunas no aprendizado de alunos

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Professor da Universidade de Columbia, em Nova York, e coordenador do grupo Ciências da Aprendizagem Brasil, Paulo Blikstein alerta que os desafios pedagógicos gerados pela Covid-19 devem ser tratados com a mesma urgência e atenção dadas às emergências de saúde. O especialista usa uma comparação direta: assim como hospitais de campanha foram erguidos para combater a pandemia, é preciso pensar no que ele classifica de “escolas de campanha”, um conceito mais amplo do que a simples adoção de videoaulas e aplicativos.

Do ponto de vista pedagógico, quais as preocupações mais imediatas para a volta às aulas?

A primeira é detectar a real dimensão do que não foi aprendido. É muito difícil propor políticas públicas sem saber o tamanho da brecha de aprendizagem dos alunos. Um perigo, aliás, é fingir que não há deficiências de aprendizado. Mesmo nos países onde o acesso à internet dos estudantes é muito maior do que o Brasil, prejuízos pedagógicos foram detectados.

Como compensar essa brecha de aprendizagem?

Precisamos admitir que a pandemia gerou uma disrupção rara na educação e entender que as medidas para solucionar um problema desta dimensão são de grandes proporções. Talvez seja preciso contratar um contingente extra de professores, ou diminuir excepcionalmente os períodos de férias ou ainda convocar professores aposentados. Os problemas gerados pela pandemia não serão resolvidos com aplicativos ou videoaula.

É preciso ousar mais?

Sim, precisamos enxergar este momento como algo similar a uma emergência de saúde. Os governos não fizeram hospitais de campanha, contrataram mais médicos? Por que não criar algo como escolas de campanha, programar aulas de reforço para todos os alunos da rede? As ferramentas virtuais têm eficácia limitada. Não dá para fazer milagre. Alguns conteúdos se acumulam na vida escolar do aluno. Há aspectos que, se você não aprende, não conseguirá dar o próximo passo, aprender o tópico seguinte. Se não aprender álgebra, não vai entender o que vem depois.

Alguns especialistas defendem passar parte dos conteúdos de 2020 para 2021, o senhor considera esta uma boa ideia?

Depende da situação de cada rede. Em alguns casos, imagino que seja uma boa ideia usar o fim de 2020 para avaliar as soluções eleitas para minimizar o impacto desse período e só adotá-las em 2021. Pode-se usar este tempo, por exemplo, para planejar uma recuperação de tudo que foi perdido. Mas não sei se funcionaria para todos. Em alguns casos, se você não recuperar logo a deficiência do aprendizado, não haverá recuperação. É importante contratar equipes de emergência para ajudar os professores. Não dá para jogar tudo nas costas deles.

O senhor acredita que soluções virtuais serão suficientes?

Elas têm um alcance limitado. Há muitas empresas de tecnologia educacional oportunistas. Elas repetem (a gestores da área): compre aqui o meu pacote de produtos! Mas as soluções virtuais não foram únicas em lugar nenhum. Elas mitigaram o problema em alguns lugares, e só. Há muitas empresas querendo vender soluções de educação à distância, por exemplo, que não são eficazes. O perigo é a educação virtual de baixa qualidade fazer parte do novo normal.

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