O ex-deputado federal Tilden Santiago morreu nesta quarta-feira (2), aos 81 anos, vítima de Covid. Em nota, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, lamentou a morte e lembrou a longa e diversa trajetória do político.
“Foi padre-operário, administrador, filósofo, professor, jornalista, deputado federal e militante da causa ambiental”, diz a nota. “Tilden deixa uma grande contribuição para as lutas do povo brasileiro, a quem dedicou sua luta e sua vida.”
Nascido em Nova Era (MG), foi um dos fundadores do PT, partido pelo qual exerceu três mandatos na Câmara dos Deputados (1991-1995, 1995-1999 e 1999-2003).
Também foi um dos fundadores da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e, no primeiro governo do ex-presidente Lula, atuou como embaixador do Brasil em Cuba.
Tilden estudou humanidades no seminário de Mariana (MG) e teologia em Roma.
No seminário de Mariana, aprendeu a tocar saxofone, instrumento musical que marcou sua passagem por Cuba, onde costumava se apresentar em jantares e festas. Em Roma, acompanhou o Concílio Vaticano 2º e passou a fazer parte do movimento religioso em favor dos pobres.
Na década de 1960, viveu um ano em um kibutz de Israel, trabalhando como serralheiro. Em entrevista à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, ele contou que descobriu a política ao entrar na serralheria.
“No dia em que comecei a trabalhar com as minhas mãos, o ideal da política se fez presente em mim”, disse. No kibutz, viveu na prática a ideologia socialista e praticou seu estilo conciliador, pois defendia os palestinos, mas tinha diálogo aberto com os judeus.
De volta ao Brasil, em plena ditadura militar, foi militante da AP (Ação Popular) e da ALN (Aliança Libertadora Nacional), liderada por Carlos Mariguella. Quando o líder revolucionário escreveu uma carta a Dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e do Recife, Tilden foi o portador.
“Agradecemos o papel que o senhor exerce na caminhada do povo brasileiro e queremos prevenir que vai estourar a guerrilha rural e queremos ter o seu apoio”, teria escrito Mariguella. “Dom Helder leu, dobrou a carta e comentou: hoje o tempo está chuvoso”, lembrou o ex-padre, na entrevista à Assembleia.
Depois das organizações clandestinas, Tilden filiou-se ao PC do B, foi preso político e trabalhou como jornalista após deixar o cárcere. Na prisão, escutou os gritos do líder estudantil Alexandre Vannucchi, morto sob tortura no DOI-Codi, em São Paulo.
Como padre-operário, viveu no Espírito Santo, na Paraíba, em Pernambuco e em São Paulo. Foi soldador, mecânico, trabalhador rural, jornalista e professor.
Formado em filosofia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), teve carreira como professor universitário e fundou o Jornal dos Bairros, um marco da imprensa popular em Belo Horizonte.
Ainda na década de 1970, filiou-se ao MDB para reforçar a oposição do partido à ditadura militar. No início da década seguinte, participou da fundação do PT e foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.
Como parlamentar, assinou o projeto de lei que prevê a guarda compartilhada para filhos de pais separados.
Foi embaixador do Brasil em Cuba de 2003 a 2007, em uma indicação política de Lula. Sem experiência diplomática e sacerdote, a indicação foi precedida de uma negociação com o líder cubano Fidel Castro. A proximidade com Marighella teria ajudado na empreitada.
Apesar da ligação de 28 anos com o PT, em 2007 o ex-embaixador aceitou convite do então governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), para ser assessor para assuntos ambientais da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais). A decisão custou uma suspensão partidária, ameaça de expulsão e, no ano seguinte, a desfiliação.
“Depois de quatro anos de diplomacia, não vivo mais a luta interna. Meu gosto é pelo pluripartidarismo e pelo ecumenismo”, ele disse na ocasião. Mais tarde, ao falar sobre o ex-partido, declarava ter ficado decepcionado com o mensalão, mas afirmava manter boas lembranças de ex-companheiros petistas.
Depois do PT, Tilden filiou-se ao PSB, ao PSOL e desde dezembro do ano passado estava no Cidadania. Morava em Contagem (MG).
“Tilden teve relevantes serviços prestados ao nosso estado e ao nosso país. Com toda certeza fará muita falta. Deixo os meus sentimentos a toda a sua família e amigos”, disse, em nota, o presidente do Cidadania em Minas Gerais, João Vítor Xavier.
Ex-padre, ele deixa três filhos.