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Saiba como Pantanal ficou mais seco e muito mais ameaçado em 30 anos entre duas versões da novela

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A primeira versão da novela “Pantanal”, em 1990, exibiu campos alagados, fundamentais para a existência da sua vasta biodiversidade. Trinta e dois anos depois, apesar de se manter um ambiente rico na atual versão, é um lugar mais seco e mudado pelo homem, o que transforma os cursos dos rios e altera os períodos de chuva.

De 1990 a 2021, 1,5 milhão de hectares de área foram afetados pelas ações humanas, aumento de 170%. Desde 1985, o bioma teve 57% de seu território queimado pelo menos uma vez. O fogo, que sempre foi tradicional no período extremamente seco entre agosto e outubro, aumentou de proporção, levando à “catástrofe de 2020”, como definem os moradores, quando 2,3 milhões de hectares foram queimados, valor menor apenas que o registrado em 1999 (2,5 milhões).

Presente nas duas edições da novela, o ator e cantor Almir Sater conheceu o Pantanal aos 10 anos e mais tarde se mudou para a região, onde mantém uma fazenda. Sater testemunhou a redução do fluxo de água:

— Os maiores problemas estão no entorno. As águas que iam para o Pantanal estão chegando menos.

Coordenador do Mapbiomas Pantanal, Eduardo Rosa diz que nas áreas de planalto do Cerrado e da Amazônia, onde ficam as nascentes dos rios do Pantanal, na Bacia do Alto Paraguai, o desmatamento, muito em função da pastagem e da agropecuária, inicia um ciclo de desequilíbrios. Eles vão desde a falta de proteção das margens das nascentes ao transporte de sedimentos até o bioma. A Floresta Amazônica, com seus corredores de umidade, é uma das grandes fontes de chuva para o Centro-Oeste. Com menos árvores, as precipitações diminuem.

— Hoje temos um Pantanal muito mais seco — conclui Rosa, que dá o exemplo da mudança do curso do Rio Taquari, um dos maiores da região. — Mudou devido ao assoreamento. O rio alaga duas grandes áreas do Mato Grosso do Sul, mas hoje diminuiu muito.

Outro motor do desmatamento destacado pelo especialista são as pequenas centrais hidrelétricas no entorno. Há 182 desses projetos.

A falta de água prejudica a reprodução da fauna e da flora, com a redução de alimentos. Espécies como onça pintada, cervo-do-pantanal, ariranha e anta estão em risco de extinção.

No início da série histórica feita pelo Mapbiomas, o alagamento do Pantanal ia de setembro até maio. Nos últimos anos, se concentra em dezembro e janeiro.

— O Pantanal hoje não é tão exuberante quanto o de 30 anos atrás — compara Rosa. — É preciso reforçar a proteção contra incêndios, recuperar as nascentes e preservar a vegetação.

Parte dos parlamentares da região atua no incentivo à pecuária no bioma. No mês passado, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou a flexibilização da Lei do Pantanal, com mudanças que aumentam a permissão à pecuária extensiva e permitem o uso, de forma intensiva ou em larga escala, das áreas de preservação permanente, além de autorizar atividades de “interesse social” na planície alagável do Alto Paraguai.

Coronel da reserva dos Bombeiros do Mato Grosso, Paulo Barroso lembra quando chegou na região, há 27 anos, a população convivia com dois meses de seca.

— Hoje, às vezes são cinco meses sem cair uma gota — lamenta Barroso, que atua na ONG SOS Pantanal.

Labaredas gigantes

O coronel diz que a estrutura precária de equipamentos e a falta de pessoal treinado dificultaram o combate às queimadas de 2020.

— Vi labaredas de 25 a 30 metros de altura e 70 metros de comprimento — lembra, acrescentando que 17 milhões de vertebrados foram atingidos, e 26% do bioma foram afetados pelo fogo.

Ao ver as imagens da destruição do Pantanal, em julho de 2020, o documentarista Michel Coeli decidiu registrar o desastre. Passou seis meses na região, onde conviveu com bombeiros e equipes de ONGs no combate a incêndios e resgate de animais. O resultado é o documentário “Sinfonia da Sobrevivência”, previsto para estrear em outubro.

— Primeiro era o fogo consumindo o bioma. Depois, a fome cinzenta: a falta de água e comida para os animais. A operação se concentrou muito nesses resgates, que eram complexos — recorda o documentarista.

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a junho deste ano, o número de focos de calor foi 26% maior que o mesmo período de 2021. O fogo já consumiu 123 mil hectares este ano.

O governo do Mato Grosso informou que investiu R$ 60 milhões este ano na prevenção e combate ao desmatamento ilegal e incêndios. O governo do Mato Grosso do Sul afirmou que foi decretada situação de emergência em 14 municípios por causa da seca este ano, o que permitirá o recebimento de R$ 38 milhões da Defesa Civil Nacional, e foram comprados dois aviões para combate ao fogo. O Ibama informou que contratou 139 brigadistas e começou a operar um sistema com antenas que detectam focos de incêndio num raio de 300 quilômetros.

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