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Samba e homenagens ao Nordeste marcam 2º dia de desfiles em São Paulo

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Coube à estreante Estrela do Terceiro Milênio colocar um pouco de polêmica ao segundo dia de desfiles de escolas de samba do Carnaval de São Paulo, em uma noite de sábado (18) e madrugada de domingo (19) marcadas por homenagens ao Nordeste e temas mais amenos que os da véspera, quando fortes manifestações de combate ao racismo e contra intolerância religiosa mexeram com a passarela do samba.

O segundo dia de apresentações no Sambódromo do Anhembi foi praticamente todo embaixo de chuva.

A escola do Grajaú, bairro da periferia da zona sul paulistana, promovida no ano passado ao Grupo Especial, abriu os desfiles com enredo que falava sobre o riso. E levou humoristas famosos para a avenida. Em uma de suas últimas alas, passistas levaram placas ao corpo com mensagem contra a censura.

“A imprensa é importante [para combater a censura], mas o humor também tem uma parte importante”, afirmou o humorista e apresentador Marcelo Tas, no fim do desfile.

Caracterizado como o apresentador do CQC, programa que ficou no ar até 2015 na TV Bandeirantes, Tas desceu do último carro com seu terno preto e óculos escuros ensopados pela chuva. “O Grajaú usou o humor para fazer um saneamento básico”, disse.

A escola passeou pelo humor do rádio, cinema e televisão e até memes da internet, exibidos em enormes telões do seu último carro.

Participaram do desfile o humorista Marcelo Adnet (com direito a uma versão aumentada de sua cabeça), André Mattos e Ellen Roche, que interpretou Capitu na versão mais recente da “Escolinha do Professor Raimundo”. Também estavam no carro integrantes do Porta dos Fundos.

A segunda escola no sambódromo, a Acadêmicos do Tucuruvi, usou a imagem do cantor de samba Bezerra da Silva para fazer crítica social, e pediu aos integrantes que levantassem o punho cerrado em sinal de protesto contra desigualdades.

Em uma das alas veio escrito em destaque na fantasia “trabalhador honesto”, para derrubar tabus contra pessoas que moram nas favelas.

Outra ala destacou a fome com letras garrafais em uma fantasia, na altura do peito do folião, numa referência às pessoas que moram na rua e também são lembradas nas músicas do sambista.

A campeã Mancha Verde, que fez um grande desfile com 2.500 componentes na avenida, ousou e provocou desconfiança ao usar acordes de sanfona no meio da batida de sua forte bateria. No final, colocou quase todo o sambódromo para cantar e dançar o seu xaxado.

A escola da torcida uniformizada do Palmeiras homenageou o sertão nordestino, por isso, o clima de forró no Carnaval. Na última parte do desfile, sinalizadores verdes acesos na arquibancada dificultaram a visualização do cortejo.

A rainha de bateria da Mancha, Viviane Araújo, retomou o posto após ficar de fora do Carnaval paulista no ano passado. Grávida à época, a atriz escolheu sair apenas pela Acadêmicos do Salgueiro, no Rio.

Expedita Ferreira da Silva, 94, filha única de Lampião, foi destaque em um dos carros da escola, que ao longo do desfile fez várias homenagens ao “Rei do Cangaço” e à Maria Bonita, a Luiz Gonzaga e ao Padre Cícero, símbolo religioso no Nordeste.

Também com samba forte desfilou a Império de Casa Verde, que no ano passado foi uma das três escolas que empataram com a Mancha Verde no primeiro lugar —perdeu no critério de desempate.

Com tambores africanos como base do enredo, a escola sabia que seu samba poderá fazer a diferença para não bater na trave desta vez, como disse Rogério Figueira, o Tiguês, diretor de Carnaval da Império, em entrevista à Folha na semana passada.

No fim do desfile, a agente de turismo Vera Lúcia Ferraz estava quase sem voz de tanto cantar, mas eufórica. “Você viu todo mundo sambando lá em cima [nas arquibancadas]? Quando o samba é bom todo mundo quer dançar”, afirmou, enquanto retirava parte de sua fantasia.

Mocidade Alegre, outra escola da zona norte (assim como a Império) e que igualmente empatou no primeiro lugar no ano passado, também se apresentou com samba empolgante e cantado na arquibancada.

A escola fez uma homenagem a Yasuke, samurai de Moçambique que se tornou um guerreiro negro respeitado no Japão no século 16.

O desfile da Mocidade mesclou as culturas africanas e japonesas o tempo todo. Logo no inicio, samurais negros enfrentaram um dragão japonês. Em um dos carros, crianças negras trajavam quimono.

Paloma Costa, 27, passou quase metade da vida desfilando no Carnaval. Ela foi uma das passistas da última ala da Mocidade Alegre e disse que sentiu frio na barriga.

“Deu medo de escorregar na chuva, mas foi lindo, maravilhoso”, afirmou ela, que “achou surreal” ouvir o público cantando o samba “Yasuke”.

A Águia de Ouro começou o penúltimo desfile do grupo especial com a pergunta “qual é seu pedaço do Céu?”.

O enredo aborda sonhos e ambições em todas as fases da vida e assim o fez, com carros com crianças, carrossel e casa de chocolate. O samba fácil não chegou a empolgar a arquibancada, mas a escola fez um desfile aparentemente sem sustos e com cheiro de chocolate.

Também com homenagem ao Nordeste, mas a João Pessoa, capital da Paraíba, a Dragões da Real encerrou já com dia claro o grupo de elite do Carnaval paulistano.

A chuva, mais do que empecilho, virou agradecimento para lavar o terreno na busca da Dragões pelo título.

Também pelo samba, a escola da torcida do São Paulo chegou a ser apontada no Anhembi como uma das que brigam para vencer o Carnaval.

No fim do desfile, a bateria sob comando do mestre Klemen Gioz, fez uma paradinha de tirar o fôlego. A passagem terminou em tom épico, com público e escola cantando o samba na dispersão.

A cantoria continuou já com o som desligado, e quando a bateria fez seu último movimento, todos gritaram “campeã”, em comoção geral.

A escola campeã de 2023 e as duas rebaixadas para 2024 serão conhecidas nesta terça-feira (21), A apuração, no próprio Anhembi, começa as 16h.

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