Lance!• Publicada em 06/08/2023 – Rio de Janeiro (RJ)
A Seleção Brasileira passou por uma grande decepção na Copa do Mundo Feminina. Em um grupo com França, Panamá e Jamaica, a equipe começou bem ao golear as panamenhas, mas acabou caindo ao perder para as europeias e empatar sem gols no jogo decisivo contra as jamaicanas, em atuação sem brilho.
Esta foi apenas a terceira vez que o time brasileiro caiu na fase de grupos da competição, sendo a primeira desde 1995. A responsabilidade da derrota foi atribuída pelos torcedores à treinadora sueca Pia Sundhage, que está no comando desde 2019. Pia passou por grande instabilidade e, além da queda precoce na Copa, ficou sem o título da Finalíssima ao perder para a Inglaterra e longe de conquistar o troféu nas Olimpíadas. Em entrevista ao Lance!, o ex-treinador da Seleção Brasileira Feminina, Renê Simões, apontou algumas falhas durante o processo.
– Existe e existirá em qualquer seleção o jogo de cultura. Nós somos latinos e o sangue quente nos desequilibra o tempo inteiro, enquanto as europeias se mantêm mais tranquilas e geladas. Faltou entender que as meninas estariam mais nervosas e deveriam ter trabalhado isso. Também não gostei de um jogo altamente concentrado. Elas tinham um ônibus parado à frente e deveriam jogar pelos lados e com bolas rápidas, mas não foi o que se viu. São quatro anos de trabalho e nenhum resultado significativo com tantas jogadoras de qualidade – afirmou o ex-técnico.
Renê, que esteve à frente da equipe em uma das melhores campanhas nos Jogos Olímpicos – comandou o time em Atenas, em 2004 – utilizou de alguns trabalhos psicológicos na ocasião para ajudar o time a entender o propósito da disputa. Como resultado, o time foi vice-campeão com quatro vitórias, batendo Austrália, Grécia, México e Suécia, e perdendo duas vezes para os EUA, uma na fase de grupos, e outra na final, vendendo caro a derrota na prorrogação. A evolução da atenção quanto ao futebol feminino também foi um ponto de destaque para o carioca.
– Temos que elogiar o apoio geral de todos os setores da Confederação Brasileira de Futebol à seleção das mulheres. Jamais a CBF prestigiou a seleção da forma como fez, enviando uma delegação enorme. O número de jogos internacionais e o número de jogadoras no exterior só leva a crer que o motivo da eliminação foi o aspecto tático e físico, como disse a treinadora depois da derrota para a França. Menos ainda de que ela queria que as jogadoras se divertissem e jogassem o jogo bonito. Termos uma europeia para colocar nossas jogadoras jogando o nosso jogo? – pontuou Simões.
Em sua carreira, Renê Simões também passou pela seleção masculina da Jamaica em duas oportunidades. Na primeira, ficou de 1994 a 2000 no comando da equipe centro-americana, sendo encarregado de comandar todo o futebol do país (base, torneios e seleção feminina). O trabalho deu certo: o brasileiro levou o time caribenho à Copa de 1998, disputada na França, sendo a primeira da Jamaica em sua história. A segunda passagem foi mais curta, em 2008, quando tentava levar o time ao Mundial de 2010, realizado na África do Sul. Renê também afirmou que enxerga uma grande evolução no futebol jamaicano desde sua época.
– A Jamaica só foi fazer sua primeira viagem internacional em um camping no Brasil, em 1994. Nós trouxemos os dois times, tanto o masculino quanto o feminino. De lá para cá, a evolução é evidente, embora não existisse nenhuma naquele tempo. As jogadoras estão ficando disciplinadas. Isso tem muito a ver com a mentalidade americana do seu treinador (Lorne Donaldson), que trabalhava no Colorado Foxes. Não acredito no titulo, mas acho que é possível uma classificação para as quartas de final – finalizou Renê Simões.
Na fase de oitavas de final, as jamaicanas encaram a Colômbia de Linda Caicedo por uma vaga nas quartas. O duelo será realizado na próxima terça-feira (8), às 5h (horário de Brasília), no Estádio Retangular, em Melbourne, na Austrália.