Contraventor revela detalhes da origem de um dos escândalos que mais geraram desgastes aos governos petistas
Disposto a revelar os bastidores e os segredos que viveu na política, o empresário Carlinhos Cachoeira, que teve seu nome estampado nos jornais em meio a episódios de corrupção e operações policiais, tenta nesta quarta-feira (27/09) sua versão para a origem do Mensalão, escândalo que deu início uma série interminável de desgastes às gestões petistas.
Quase dezenove anos depois, Carlinhos Cachoeira relata que o escândalo foi responsável por derrubar e aniquilar de vez os planos do PT emplacar o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu em torná-lo sucessor de Lula e obrigou a legenda trabalhista a “inventar” o que se tornaria a próxima presidente da República com Dilma Rousseff.
Um sobrinho de Cachoeira – que não teve a identidade revelada – recorreu ao empresário em busca de ajudar um amigo que vinha sendo extorquido em troca de vantagens nas licitações da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). O parente do bicheiro não teve a identidade revelada mas é descrito por Carlos como um empresário de Anápolis, “bastante articulado com o empresariado de Brasília e com a política nacional da época”.
O amigo do sobrinho era Arthur Wascheck. O favor que o sobrinho pedia? “A ajuda para que o corrupto fosse gravado e, assim, desmantelar o esquema montado que estaria prejudicando Wascheck, afinal, segundo eles, o servidor muito pedia e nada entregava”. Carlinhos revela que nunca teve contratos com os Correios e topou auxiliar o sobrinho a ajudar o amigo.
O combinado era encaminhar o material gravado ao jornalista Policarpo Júnior da Revista Veja, no Distrito Federal. A matéria seria apurada e o corrupto exposto. O enredo para a gravação era o seguinte: Maurício Marinho, servidor ligado ao deputado Roberto Jefferson, à época presidente nacional do PTB, era alimentado por propinas pagas por Wascheck que buscava vantagens que nunca apareciam na tal licitação. Com o tempo, Wascheck desconfiou que estava sendo enganado por Jefferson e tentou reagir ao ato com a gravação”.
Carlinhos consegue o equipamento com uma câmera e um microfone que expõe toda a conversa. “A gênese do escândalo nacional começava a ser revelada naquele momento”. Tudo seguiria o plano quando Wascheck decide pedir a cópia da fita que já havia sido encaminhada aos jornalistas para pressionar diretamente o deputado federal Roberto Jefferson.
Jefferson ao saber da ameaça, decide correr atrás do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu que pediu a um diretor da Abrin que investigasse Wascheck. O problema foi que o empresário conseguiu pressionar o deputado federal e seus pedidos serem atendidos. “Tudo corria bem entre os envolvidos na tramoia a ponto de, agora, Wascheck e sua turma quererem impedir a publicação do escândalo, uma vez que tudo o que queriam estava sendo resolvido “discretamente”.
Em vão. Duas semanas depois, Veja e Folha de São Paulo davam detalhes sobre o escândalo e o resto é história. Como organizador do esquema para gravação e expor os personagens da tramóia, Carlinhos Cachoeira foi chamado para participar da CPI convocada por parlamentares que apurou o escândalo do Mensalão num primeiro ato que o colocaria reiteradas vezes nas páginas políticas e policiais.
Domingos Ketelbey – Goiânia, GO