O Banco Mundial recebeu, na noite desta quinta-feira (18), a comunicação oficial que indica o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub para o cargo de diretor executivo no conselho administrativo da entidade. Para que assuma o posto, a nomeação precisa ser aceita pelos demais países do grupo do qual o Brasil faz parte — porém, como nunca uma candidatura brasileira foi contestada, a expectativa é que o ex-ministro seja eleito. Ele deverá cumprir o restante do mandato atual que termina em 31 de outubro de 2020, quando será necessária uma nova nomeação e nova eleição.
A ida de Weintraub para o Banco Mundial deverá representar uma reviravolta em tudo o que ele prega na cartilha antiglobalista e conservadora do bolsonarismo. Segundo lembrou uma fonte ligada à instituição, na função de diretor-executivo do Bird, Weintraub passará a defender uma agenda progressista, formada por políticas de equalização de oportunidades entre gêneros e o apoio a projetos que lidam com a mudança climática, entre outros exemplos. Ele passará a trabalhar em uma das principais instituições multilaterais do mundo, fundada em 1944, tem 189 países membros e funcionários de aproximadamente 170 nações.
Weintraub também terá de dominar seu gênio explosivo. O Bird tem regras que preveem punições a desvios de conduta. Além disso, precisará conquistar credibilidade junto a outros países do banco, tendo em vista que está deixando um governo cujo presidente da República é completamente alinhado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O termo diretor-executivo pode ser enganador, pois a função do cargo é mais do que executiva. Tem em sua essência a política e a diplomacia.
Eleição
Abraham Weintraub assumirá o vaga de Fábio Kanczuk, que deixou a função de diretor-executivo antes de encerrar o mandato — que termina em outubro deste ano — para ser diretor de Política Econômica do Banco Central. Atualmente, quem assume o cargo de forma interina é a economista filipina Elisa Augustin. Nunca uma candidatura do Brasil foi contestada e, por isso, a expectativa é que o ex-ministro seja eleito sem dificuldade.
Há 25 cadeiras no “board” do Bird. Uma delas, que tem à frente o ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, representa não apenas o Brasil, mas também Colômbia, Equador, República Dominicana, Haiti, Panamá, Suriname, Trinidad & Tobago e Filipinas. Ou seja, são nove países com poder de voto. Há cadeiras que só têm apenas um país, caso, por exemplo, dos Estados Unidos, da China, da França, da Alemanha, do Reino Unido e do Japão.
— A cadeira brasileira está vaga. Não há um representante do Brasil — disse o ex-diretor e ex-vice-presidente do Bird, Otaviano Canuto, que ocupou a cadeira de diretor-executivo, assim como o ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan; o embaixador Marcos Caramuru; o atual presidente da Federação Brasileira de Bancos, Murilo Portugal; entre outros.
O mais provável é que a eleição ocorra em novembro, quando assumirá o novo “board” do banco. O mandato é de dois anos.
Luiz Carlos Prado, professor da Economia Internacional da UFRJ, lembrou que o Brasil faz parte do Banco Mundial desde sua origem, nas conferências de Bretton Woods. Segundo Prado, pela longa história que tem dentro da instituição, sempre manteve uma posição importante e de prestígio. O professor disse que, apesar de Weintraub não ter o perfil para a vaga, é muito improvável que sua indicação não seja aceita.
— Pela tradição, o Brasil costuma ter todas as indicações ao cargo aceitas. Então, dificilmente a nomeação do Weintraub não passe. Porém, como ele vai representar mais países do que apenas o Brasil e vai participar de reuniões com um grupo muito qualificado, se atuar como um militante de extrema-direita, da mesma forma como ocupou o Ministério da Educação, haverá desgastes até mesmo de natureza diplomática – afirmou.
Novo salário
Os diretores executivos de cada grupo compõem os Conselhos de Administração do Banco Mundial. Em geral, eles se reúnem ao menos duas vezes por semana para supervisionar os negócios da instituição, incluindo a aprovação de empréstimos e garantias, as novas políticas que serão adotadas, o orçamento administrativo e as estratégias de assistência aos países, além de rever quanto de capital o banco precisará. Como ocupante do cargo deve representar os demais países do Bird nessas discussões, é muito importante que ele tenha uma experiência diplomática.
Financeiramente, a mudança de ares fará bem a Abraham Weintraub: seu salário pode triplicar e lhe render R$ 1,38 milhão por ano. Como ministro, Weintraub ganhava R$ 30,9 mil. Em valores convertidos para o Real, passará a receber R$ 115 mil por mês. Segundo a tabela de remuneração do Banco Mundial divulgada em 2019, o salário anual para os diretores-executivos do banco é US$ 258,5 mil.